O desenvolvimento do problema

 

Folha Mulher – 20/11/2012

Na última edição, escrevi sobre a Síndrome de Dependência relacionada ao álcool e outras drogas, com o “abandono progressivo dos prazeres e alternativas em favor do uso”, como uma das características diagnósticas das dependências. Mas como o problema pode começar? Bem, como já disse antes, as
dependências são consideradas doenças multideterminadas (biopsicossociais) e, obviamente, ninguém nasce dependente de substâncias psicoativas, embora possa ter a predisposição para vir a ser.

A dependência é uma síndrome progressiva, que passa por fases iniciais e passiveis de tratamentos preventivo e ambulatorial, antes da doença estar estabelecida.

As fases de desenvolvimento da dependência são conhecidas como:

1- Fase experimental
2- Fase recreacional
3- Fase habitual
4- Uso nocivo
5- Dependência

A verdade é que nenhum alcoolista vai começar bebendo (sem exageros) 1 litro de alguma bebida destilada. Da mesma forma uma usuária crônica de maconha não vai fumar diariamente nas fases iniciais.

Na fase experimental, como o próprio nome diz, a pessoa terá o primeiro contato com a substância. Geralmente o contato inicial se dá por curiosidade, pressões grupais, relacionamento com amigos que utilizam substâncias, pais que bebem, fumam cigarros ou usam drogas na frente dos filhos, etc. Após o uso
experimental, e, ao experenciar sensações prazerosas, o indivíduo adulto ou adolescente vai, via de regra, querer repetir a experiência e pode passar para a segunda fase, o uso recreacional.

Tem essa denominação por ser associado a “momentos bons”, como as baladas, reuniões de amigas/amigos, shows, passeios, surf na praia e por aí vão inúmeros exemplos. Com isso, a pessoa pode ir desenvolvendo o hábito, fase na qual, para muitas das situações recreacionais, já se associou a nivel mental e comportamental, o álcool ou a droga, como sendo “algo bom”, “divertido” e “normal”.

As pessoas também podem ir desenvolvendo o hábito de beber/usar drogas com o objetivo consciente ou inconsciente de se “sentir melhor ou mais poderosas”. Ainda podem usar as substâncias para aprenderem a lidar com seus sentimentos. Usam quando estão tristes para se sentirem alegres, quando frustradas para “amenizar”a espera, quando felizes para manter a plenitude… As drogas tem o poder de alterar as emoções e iludem a pessoa usuária.

Nestas fases, quando detectadas, é muito importante a participação de um psicólogo para ajudar na compreensão dos fenômenos psiquicos que estão permeando o problema.

Após as fases iniciais do desenvolvimento do problema, as pessoas usuárias de substâncias psicoativas, podem entrar nas próximas fases. No uso nocivo, a pessoa já começa a apresentar alterações comportamentais importantes e a idéia principal envolvida nesta fase é “causar dano a saúde, colocar-se em risco e também causar sofrimento a si mesmo ou aos outros”.

A fase do uso nocivo pode durar meses ou até mesmo anos como em alguns casos de alcoolismo, até chegar na última e pior fase que é a da dependência. Em todas as fases o problema pode ser tratado ou detido, mas a verdade é que quanto mais tempo passar, mais dificil fica o tratamento.

A importância de transmitir esses conhecimentos a vocês leitoras e leitores, é de estabelecer criticas e critérios. O que um dia pode começar com uma simples curiosidade (experimentação) pode terminar em situações dificeis de serem tratadas, que provocam sofrimento na pessoa e em toda a família.

Silvio Pereira Gonçalves, CRP 06/72553, é Psicólogo, Especialista em Psicoterapia Breve e Psicopatologia, Especializado em Dependência Química e Terapeuta Familiar. Diretor da Clínica Vale Verde, atende na Clínica Neuropsiquiátrica Atibaia.

silvio@clinicavaleverde.com.br